terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Entre fugir e arriscar
eu escolho os teus braços
Não há abismo mais seguro
que me assegure de tal forma
que a felicidade não tem tempo
O que existe são apenas nossas notas
trocadas embaixo do lençol
sentidas no teu cheiro em minha roupa
e respiradas
como o vício mais doce e inebriante.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sobre perdas e ganhos

Todos olhavam pra ela e diziam carinhosamente “vai passar”, disso a menina sabia, tudo um dia passa, se a vida não levar a morte se encarrega do trabalho. O que ela queria mesmo saber era “quando”, quanto tempo aquela dor ainda iria morar ali, quanto tempo restaria para que suas lembranças se afastassem, quanto tempo demoraria para que ela conseguisse olhar no espelho algo além de uma menina magra, chorosa e incompleta... a outra parte dela havia partido dentro de muitas outras pessoas, ela precisava se reencontrar, se encontrar.

É mesmo difícil juntar as peças de um tabuleiro quebrado, principalmente quando se acredita que tudo estava completo, mero engano, tudo acaba, o café, a comida, o dinheiro, até as contas acabam para ceder espaço a outras dividas, ou não, as dúvidas, o medo e aquela velha vontade de encontrar uma tal felicidade, isso sim, nunca morre. O que ela precisava era, mesmo dentro do olho do furacão, fechar os seus olhos e só assim se notar.

Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz, ou muitos desses, colecionar fracassos por algum período pode ser normal, se afugentar neles não. Esperar que as coisas mudem, que as pessoas mudem, que as estações mudem não provoca mudanças onde realmente deveria haver, se a menina se mudasse, abrisse suas janelas, varresse sua casa, seus olhos seriam diferentes e só assim poderia surgir um mundo inteiro, novinho, pronto para ser experimentado.

Lutar é divinal, insistir, persistir, agüentar são qualidades louváveis mas saber parar, voltar, revisar seus caminhos e desisti de outros exigia bem mais coragem dela, a tal luta também pode ser o fracasso de alguém que tem medo de admitir o vão, medo simplesmente de enxergar o quanto se andou, o quão pouco se moveu.

Há vida e beleza em todo canto, até em seus olhos chorosos, embora a dor nos impeça de perceber e embora a menina que exista em nós permaneça muitas vezes assim, inerte, fria e morta no mundo que escolhemos pra nós.

[Homenagem às longas conversas que tive com um Ioiô de 16 anos]