sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cantiga retirante

E se pinga o pingo molhado

é sinal que a chuva vem vindo

Vento forte, maresia

Meu coração inundado

rezando pela travesia


E se o vento sopra arrastado

espalhando as flores de abril

Meu pobre coração alado

pulsante, indolente e febril

Esse infantil trovador apaixonado

só segue o que sua sina manda...


E chove, e inunda, e afunda

O que tiver que ser, será

Já diziam em uma ciranda,

Se por redemoinhos passar

E nas pedras miúdas cortar

Haverá de haver um abrigo

Um colo pra esse meu amigo

dormir e poder se encostar


Passa chuva passeando

Eu continuo cantando

Que é pro meu pranto secar

Passa chuva passeando

Eu inda vou navegando

Ancorando onde o mar me levar

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Lição da água

I


o
mar,

fêmea
possessa.

sua fala
de suave

lâmina
abissínia;

o ritmo
ondulado,

que flui
em espiral;

a precisão
especular

do teatro
aquático;

o secreto
pugilato

que sulca
as rochas.


II

o
mar,

leoa
furiosa,

ensina
ao poeta

sua arte
plumária;

a dança-
escultura

das vagas
incessantes;

a pulsação
do poema,

seus ciclos
menstruais.

o
mar

ensina
ao poeta

sua arte
sem arte.


[Cláudio Daniel]

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Gosto de doces, chocolates, sorvetes, perfumes, beijos e palavras. Adoro hambúrguer com maionese, adoro morder, principalmente quem eu gosto! Gosto de sonhos apesar de manter, na maior parte do tempo, meus pés no chão e gosto de dançar, mesmo sozinha, mesmo sem música, só dançar. De mar, de violão, de cantar, de aplaudir.
Muitas vezes pago pra vê as coisas acontecerem, e por mais que sinta medo na maioria dessas vezes, eu me encolho no canto da cama e espero o medo passar.
Entendo o passado como parte fundamental pra minha formação, o futuro como... o futuro, e o presente, ah, o presente sou eu. O presente é o que eu faço, pelo que eu luto e as coisas que eu deixo escapar, sendo que a ultima opção é realmente a última opção!
Tenho muitos amigos e alguns irmãos. Tenho uma irmã, nenhum cachorro e um padrasto.
Amo cantar quando Tâmara ou André tocam, atentar Cláudio dirigindo, puxar a orelha de Junior, tirar a sobrancelha de Alane e Thamires, imitar a voz de Carina, morder a mão de Silvana, ligar pra Vivi quatro horas da manhã, tranqüilizar Gracilene, dar conselho sobre roupas pra Jê, sair com tia Nara e reencontrar alguns amigos que me deixaram solta por ai.
Sou um pouquinho das pessoas que amo e eles são um pouquinho de mim também.
Assim, tão simples quanto indecifrável, profundo, banal, engraçado, singelo, triste, confuso e, acima de tudo, indefinível.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Lar, doce Larissa

Palavras espremidas do sertão das minhas falas
Ditas, cuspidas na sala e juntadas do chão
Pois não sou poeta, não sou cantor
Não sou artista, nem compositor
Mas tenho o mote, o lápis e o apontador
E um coração

Gotas espremidas do sertão do meu querer
Pingadas, escorridas pelo meu deserto profano
Afogando suas mágoas e lavando sua alma
Trazendo tempestade onde antes tinha calma
E tornando o que antes cabia numa palma
Em oceano

Faço verso, faço arte
Faço juras e faço verdades
Faço tudo pra não errar
Mas erro mais e mais
Faço guerra e faço paz
Enquanto você me faz

Se sou o que agora sou
É porque fui forjado no teu calor
Se onde havia pedra, hoje há emoção
É porque me esculpiu no carinho de tua mão
E além de tudo você ainda faz
Um oceano em meu coração


Cláudio Roberto Martins

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Entorpeção

Me dêem um cigarro,
Um copo de cola,
Um pouco de cola,
Um whisky passado.
Me dêem insulina,
Gardenal, penicilina
Qualquer coisa que se rima
E que amenize minha dor
Me dêem um trocado
Um perfume batizado
Ou um terço carregado
de oração a meu favor
Me dêem de repente
Uma alegria permanente
Um cobertor bem quente
Uma janela a meu dispor
Me devolvam meu retrato
O meu rosto, meu sapato
O meu bolso ainda furado
Um pouquinho de amor
Me dêem a essa gente
Me tratem indiferente
Transformem minha mente
Para não ser mais quem sou

terça-feira, 17 de junho de 2008

TE AMO, OMA ЭT

oma ЭT

Por que do silêncio não sei nada

oma ЭT

Por que da paixão já não entendo

oma ЭT

Pois vi o descontentamento

oma ЭT

Sem cor, sem voz e sem a fala



oma ЭT

Mas de um jeito bem contrário

oma ЭT

E te vejo sempre ao inverso

oma ЭT

Com todas as forças que eu peço

oma ЭT

Assim como o vento se espalha



Mas se te amo desse jeito esquisito

Traduza agora essa formula errada errada

Sem ver nada, percebendo sem rodeio

Que eu não te amo, eu te odeio.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Penso nas quintas, sextas e domingos também, penso no mar, na chuva, nos vermelhos, penso em flocos com chocolate, em fazer um filme, em pinhais e Jorge Vercilo. Penso na tua mão no meu cabelo, no fio do meu cabelo que compões a tua blusa, que encosta no teu peito, que escuta o teu coração, o mesmo coração por onde pulsa o meu sangue, o mesmo sangue que impulsiona as minhas asas.

Penso em milhões de precipícios e sempre em me jogar de um deles, penso nos teus olhos entreabertos, na tua mão pelo meu braço, no teu abraço.

Fico pensando no teu cheiro e na tua cara de bobo quando eu digo que te amo, na tua cara de bravo quando fingi ter ciúmes, nessa cara de chato quando quer me provocar. Penso na tua boca, e em nunca mais parar de te beijar, penso no por quê não canso de te beijar. Penso em ficar contigo só pra mim, penso em te roubar, em maltratar, em provocar e em te provar que aqui, nos meus braços, é que é o teu lugar.

Penso em te casar comigo e em mim, penso em te odiar por me fazer pensar tanto assim, penso, por um segundo. Penso no quanto sou feliz, estou feliz, no quanto você me faz assim. em como você faz cada dia especial, cada hora em minuto e cada doze em um dia diferente.

Pensando bem, não sei como você consegue adivinhar meus pensamentos e me dá todos os dias mais do que eu pedi, se dá pra mim. Penso sempre no que ganho se ficar e nunca pensei em partir.

Penso, eu só penso.

No quanto você ainda é especial por ser exatamente assim, lindo. E mais, penso no porque você ainda pensa no que eu penso quando te beijo...

terça-feira, 10 de junho de 2008

Laços de aço

No teu laço me enlaço
E me desfaço em teu olhar
Na tua boca renasço
Confundo o tempo com espaço,
os teus cabelos com o mar

No teu regaço, morena
É onde vou me afogar
Quero matar meu cansaço
Fugir desse meu cangaço
Perder o passo, o compasso
e o limite pra te amar

No teu abraço disfarço
Que cansei de cavalgar
Com minha armadura de aço
Vou seguindo o teu pé descalço
No caminho pra me encontrar.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Velar

Vela que vela, veleja, que leva,
Vela que reza, esbraveja, revela
Nesse meu vale só levo comigo
A luz dos teus olhos que me observa

Vela que velo, que espero, que peço
Vela que queima, que arde, que esqueço
Leva contigo a minha leva de paz
Pois não lembro mais que barco me leva

Eu já não sei o que me carrega
Nem sei bem certo se levo ou se fico
Se sou levada pelo precipício
Se sou fincada no vale de pedra

Velo e velejo no meu próprio mar
ainda não sei onde devo chegar
Vela que vela, que reza, que treme
Velo e navego sem ter o meu leme.

domingo, 8 de junho de 2008

Qualquer coisa

Sou qualquer coisa que não esteja aqui
Ou qualquer coisa que está em qualquer lugar
Sou a máscara da noite de Vinicius
O mais profundo precipício
Sou partículas no ar
Sou qualquer coisa que se sente e não se vê
Ou qualquer coisa que se vê sem se tocar
Eu sou a água para a sede de Tântalo
Sou um náufrago no pântano
Que é estar preso em teu olhar
Eu sou um beco sem entrada e sem saída
Sou um aquário mais profundo que o mar
Eu sou o silêncio de alegria e de desgosto
Sou inverso do oposto
Sou o ódio de amar
Sou qualquer coisa que só tu podes saber
Ou qualquer coisa que nem tu podes falar
E quando o vento vir soprar bem de mansinho
Tenha certeza, esse é o carinho
Que eu tenho pra te dar.