segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Eu não sei o que queria a menina que não sabia sorrir. Quando tudo estava inteiro ela veio e me mostrou que não, veio-me dizer que havia espaço dentro da minha casinha de lençol, veio me mostrar que dentro de uma casa da amarelinha cabe mais de uma a pular, veio desorganizar meu quarto, colocar um berço, uma cama, outra estante, dividir o espaço no meu guarda roupa e me fazer pensar o que faria se por alguma noite ela não estivesse ali...
A menina veio me morder, bater na minha papeira, riscar minhas bonecas, ocupar minha cama quando sentia medo, ocupar minha vida pra que eu não sentisse mais medo do mundo, veio me mostrar que a solidão é estar sem lar, veio me mostrar que o meu lar era dentro de seu pequenino coração.
A menina simplesmente veio, e me mostrou através do seu sorriso de aparelho que atrás da janela do meu quarto existe o mundo inteiro.Que não importa quanto tempo passe, quantas pessoas passem, quantos invernos ainda terão, estaremos ainda ali, dentro da velha casinha de lençol, brincando com as velhas bonecas riscadas de cabelos cortados. Ela me mostrou que eu não existiria sem que ela estivesse ali, ou a dor que sentiria se tivesse que vê-la partir,veio segurar a minha mão pra atravessar a ruae me mostrar que não importa quantas coisas ainda terei que dividir., a partir daquele dia, eu nunca mais seria só...

Feliz Aniversário minha Cacá, obrigada por vir pra me fazer feliz..


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Entre fugir e arriscar
eu escolho os teus braços
Não há abismo mais seguro
que me assegure de tal forma
que a felicidade não tem tempo
O que existe são apenas nossas notas
trocadas embaixo do lençol
sentidas no teu cheiro em minha roupa
e respiradas
como o vício mais doce e inebriante.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sobre perdas e ganhos

Todos olhavam pra ela e diziam carinhosamente “vai passar”, disso a menina sabia, tudo um dia passa, se a vida não levar a morte se encarrega do trabalho. O que ela queria mesmo saber era “quando”, quanto tempo aquela dor ainda iria morar ali, quanto tempo restaria para que suas lembranças se afastassem, quanto tempo demoraria para que ela conseguisse olhar no espelho algo além de uma menina magra, chorosa e incompleta... a outra parte dela havia partido dentro de muitas outras pessoas, ela precisava se reencontrar, se encontrar.

É mesmo difícil juntar as peças de um tabuleiro quebrado, principalmente quando se acredita que tudo estava completo, mero engano, tudo acaba, o café, a comida, o dinheiro, até as contas acabam para ceder espaço a outras dividas, ou não, as dúvidas, o medo e aquela velha vontade de encontrar uma tal felicidade, isso sim, nunca morre. O que ela precisava era, mesmo dentro do olho do furacão, fechar os seus olhos e só assim se notar.

Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz, ou muitos desses, colecionar fracassos por algum período pode ser normal, se afugentar neles não. Esperar que as coisas mudem, que as pessoas mudem, que as estações mudem não provoca mudanças onde realmente deveria haver, se a menina se mudasse, abrisse suas janelas, varresse sua casa, seus olhos seriam diferentes e só assim poderia surgir um mundo inteiro, novinho, pronto para ser experimentado.

Lutar é divinal, insistir, persistir, agüentar são qualidades louváveis mas saber parar, voltar, revisar seus caminhos e desisti de outros exigia bem mais coragem dela, a tal luta também pode ser o fracasso de alguém que tem medo de admitir o vão, medo simplesmente de enxergar o quanto se andou, o quão pouco se moveu.

Há vida e beleza em todo canto, até em seus olhos chorosos, embora a dor nos impeça de perceber e embora a menina que exista em nós permaneça muitas vezes assim, inerte, fria e morta no mundo que escolhemos pra nós.

[Homenagem às longas conversas que tive com um Ioiô de 16 anos]