quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Tudo Novo de novo

Chega uma hora que se acabam as páginas da agenda, acabaram –se os compromissos, os planos, os sonhos, de repente o amigo próximo torna-se o distante, as confidencias ganham novos ouvintes, os carinhos ganham novas peles e as pessoas ganham outro sentido, tudo ganha um novo sentido. Terminam 365 dias em 12 meses, sem espanto começamos novamente a conferencia por dentro das horas e dias, e mais 12 meses pra seguir, os mesmos 12 meses que já se haviam passado, no porta-retrato a fotografia, revelando que, no fundo, ninguém é o mesmo depois do ano novo.

De repente se descobre o quanto é importante viver, o quanto a vida já nos levou, o quanto ainda temos a perder, e percebemos que perdemos tanto e tantos que às vezes nem conseguimos correr atrás. A vida começa a passar na frente dos olhos como relâmpagos acusadores, tudo o que faltou, tudo o que restou, é só o que importa, a gente se vê novamente assim, presos a um tempo imaginário, aguardando o orgulho ou a acomodação nos tomar e fim, fim de ano, fim de uma parte da vida, fim do que poderia ser feito e não foi.

A cada 24 horas já se passaram no mínimo 24 chances de se recomeçar. Não é o calendário que tira as máscaras e dá ânimo a quem precisa seguir a caminhada. Que o ano novo seja mesmo um novo ano feliz mas que o ano novo seja novo mesmo só quando se acabar o calendário, pois a vida continua em cada linha da agenda.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Vergonha brasileira

A vergonha de não saber dizer a resposta certa, de simplesmente não saber, de não ter nada a fazer, a vergonha de um voto, a vergonha da impotência... enquanto cerca de 170 milhões de habitantes saem pra derramar o suor do rosto sobre o trabalho diário pra ganhar um salário mínimo que é mínimo não só no nome, 11,2 milhões imaginam o que podem inventar em mais um dia de fome. O brasileiro de raça que nunca desiste é o primeiro a se desesperar com a conta a pagar, outros nem isso, se desesperam por não saber onde passar mais uma longa noite, mas fazer o que? A gente luta pra trabalhar, aumentam nossos impostos, luta pra votar, cancelam nosso voto, luta contra uma política baseada na corrupção, no poder centralizador, na maior e melhor distribuição de renda e os mesmo votos de confiança ou de burrice que fizemos são os votos que nos pisam, que aumentam a desigualdade, que tripudiam e riem agora. Palhaço mesmo é quem joga o voto fora votando em quem sequer é capaz de contar o valor de seu novo salário. Simplesmente vergonhoso, e eu me calo mais uma vez.

398 anos de espera

"Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
que eu não encontro por cá,
sem qu'inda aviste as palmeiras,
onde canta o sabiá."
(Canção do Exílio - Gonçalves Dias)


398 anos de palmeiras, sabiás, lendas, histórias, tijolos recobertos por azulejos que refletem uma cidade inundada por tradições. Enquanto tantos brigam pra dizer se é francês ou português o início dessa edificação, uma certeza essa cidade tem, a de que é genuinamente brasileira, recoberta por sotaques, cores, mestiçagens, mas que apimenta-se um pouco além em culinária peculiar com as ervas do cuxá, em danças tão envolventes como o tambor de crioula, mitos, fantasias e a verdade do bumba meu boi tão nosso... nossa cidade.

São Luís do Maranhão, norte do segundo Estado mais pobre do nordeste, Maranhão que significa terra da mentira, afunda essa ilha em mentira também. Cidade litorânea, cercada por praias, diversidade natural e cultural, riqueza de belezas conservadas e até de belezas não conservadas, mas que se mantêm belas, cidade tão pequena, tão grande, mas, que consegue ter tantas pessoas em ruas, tantos desempregados, tantas crianças fora das escolas, assaltos, mendigos, misérias, e se a realidade de São Luís, linda capital, é assim, imagina a do Estado. Pólo industrial, segundo maior porto do mundo, terra onde muito do que se planta, se colhe, terra que dá pra pescar, caçar e vender, ainda se imerge em lamúrias, em mães perdendo seus filhos para a fome, em desnutrição, em pais morrendo de tanto trabalhar, em um país em desenvolvimento que desenvolve cada vez mais a velha capacidade de mentir, de omitir, de sucumbir tamanha riqueza para o lucro pessoal. Riquezas tantas mal aproveitadas, mal distribuídas, marginalizadas da massa popular, marginalizando cada vez mais a esperança de quem espera que o voto mude alguma coisa.

É São Luís, feliz 398 anos de poder nas mãos erradas, 398 anos de uma história tão linda, em uma estória tão pobre. Felizes os ludoviscences que lutam tanto todo dia pelo pão na mesa, não só de um, mas de tantos maranhenses que merecem acordar em uma realidade melhor. E se nossa luta não basta, se a voz dilui no tempo, se o voto nos cala, desejo também que a mentira seja calada e que cada maranhense não se canse de lutar não só pelo fim de oligarquias, mas por uma São Luís de heróis, de lendas e histórias de verdades.

Qual o fio que nos uni e nos separa?

Lona posta, artistas maquiados, discursos afinados, forma-se o espetáculo. Peculiarmente, nesse circo os palhaços atuam sentados nas arquibancadas, se é que se trata de uma atuação! Circo onde a mão que lava é a que está suja, onde interesses e ideologias se misturam, confundem-se, fundem-se em uma coisa só e fazem da política, meio que deveria ordenar e organizar o país, um motivo de vergonha.

O conceito de partido político cai diante da maior ideologia pregada, a luta pela sobrevivência, quem tem mais poder se privilegia com o topo da cadeia alimentar, poder que é mensurado em números e valores de cédulas colecionadas. Esquece-se a ordem e parte-se para a execução do mais importante, o progresso pessoal.

E se um escândalo é pouco, podem se sentar e se deliciar, presidentes, deputados, mordomos e senadores aceitam entrar na dança pra continuar o show. Se esconder dinheiro em cuecas, lavar dinheiro em empresas, manipular emissoras e monopolizar o governo de um Estado não é ridículo o suficiente, os espectadores ainda podem se esbanjar em superfaturamentos de obras, quando há obras, empresas e funcionários fantasmas e, claro, sonegação do imposto de renda, afinal, é normal, todo mundo tem aquele empoeirado ato secreto no armário...

E o irônico é que nada pode deter esse ciclo, denunciar abusos de poder a cargos superiores é inútil, na política, quem cala se defende, chamar a polícia seria viável, lugar de ladrão é nas grades, mas não há muito o que se fazer quando a polícia é a primeira a roubar, qualquer movimento ou organização está envolvido nessa rede de interesses, ir contra um, é apoiar o outro.

A política vai se moldando, mostrando que o voto já nem vale mais, não existe democracia quando não existe nem escolha no voto, cassações ou candidatos trocando de partido são só exemplos que demonstram que não existe soberania da vontade da população, o caos é tanto que a escolha se torna cada vez mais difícil e sem sentido.

Bandeiras hasteadas, tomar partido pra quê? No final, tudo acaba por ser a mesma coisa e caminhar pra um só ponto, o ponto inicial de toda a discussão, um interesse em jogo, um bom discurso, platéia e pronto, forma-se a política brasileira, muito pão e os palhaços já dentro do circo.