sábado, 18 de dezembro de 2010

398 anos de espera

"Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
que eu não encontro por cá,
sem qu'inda aviste as palmeiras,
onde canta o sabiá."
(Canção do Exílio - Gonçalves Dias)


398 anos de palmeiras, sabiás, lendas, histórias, tijolos recobertos por azulejos que refletem uma cidade inundada por tradições. Enquanto tantos brigam pra dizer se é francês ou português o início dessa edificação, uma certeza essa cidade tem, a de que é genuinamente brasileira, recoberta por sotaques, cores, mestiçagens, mas que apimenta-se um pouco além em culinária peculiar com as ervas do cuxá, em danças tão envolventes como o tambor de crioula, mitos, fantasias e a verdade do bumba meu boi tão nosso... nossa cidade.

São Luís do Maranhão, norte do segundo Estado mais pobre do nordeste, Maranhão que significa terra da mentira, afunda essa ilha em mentira também. Cidade litorânea, cercada por praias, diversidade natural e cultural, riqueza de belezas conservadas e até de belezas não conservadas, mas que se mantêm belas, cidade tão pequena, tão grande, mas, que consegue ter tantas pessoas em ruas, tantos desempregados, tantas crianças fora das escolas, assaltos, mendigos, misérias, e se a realidade de São Luís, linda capital, é assim, imagina a do Estado. Pólo industrial, segundo maior porto do mundo, terra onde muito do que se planta, se colhe, terra que dá pra pescar, caçar e vender, ainda se imerge em lamúrias, em mães perdendo seus filhos para a fome, em desnutrição, em pais morrendo de tanto trabalhar, em um país em desenvolvimento que desenvolve cada vez mais a velha capacidade de mentir, de omitir, de sucumbir tamanha riqueza para o lucro pessoal. Riquezas tantas mal aproveitadas, mal distribuídas, marginalizadas da massa popular, marginalizando cada vez mais a esperança de quem espera que o voto mude alguma coisa.

É São Luís, feliz 398 anos de poder nas mãos erradas, 398 anos de uma história tão linda, em uma estória tão pobre. Felizes os ludoviscences que lutam tanto todo dia pelo pão na mesa, não só de um, mas de tantos maranhenses que merecem acordar em uma realidade melhor. E se nossa luta não basta, se a voz dilui no tempo, se o voto nos cala, desejo também que a mentira seja calada e que cada maranhense não se canse de lutar não só pelo fim de oligarquias, mas por uma São Luís de heróis, de lendas e histórias de verdades.

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