Esse é mais um arquivo, onde jogo minhas roupas velhas e ali esqueço, do que escritos convencionais. Pego minhas palavras soltas, lavo, dou cheiro, cor, gosto e asas para que possam, enfim, sair de mim e tomar o formato do sentido de quem lê. Não foi feito para ser admirado mas se quiser entrar, sente-se, não faltará cal para a nossa construção.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Claridade
eu não sou caminho pra seguir em segurança
Passada essa tempestade
pega a passagem e anda;
A claridade me curou
me guardou da solidão
tocou em mim, como clarão,
cegou,
mas me fez enxergar o que não via
dentro de mim é que se escondia o meu maior pesadelo
Já não fujo mais do sono,
a claridade me ninou,
iluminou meus pés e passos
carregou os meus pedaços quando tudo já não estava
E se o Sol precisa se pôr
Vá
Faz da tempestade claridade,
ilumina nos meus olhos a saudade,
E enche de vida outro lugar...
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Meu barco sou eu
E se querem saber quem eu sou é só preparar a bagagem, nessa minha viagem não cabem sonhos, nada de planos, esqueça o leme também, eu só vou a favor do vento procurando num destino incerto apenas a hora certa de chegar.
domingo, 10 de maio de 2009
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Por ser volúvel
Volúvel, adj., do latim, aquele que gira, inconstante, variável, da botânica é o vegetal que se enrosca.
Você me diz que sou volúvel. Inconstante, talvez instável, variável como o mar, talvez ser mar nesse furacão seja a única maneira de evitar meu próprio naufrágio, frágil barco navegador, sou apenas espasmo de um coração que atirei no infinito.
Talvez seja tão volúvel quanto um pião, que se gira facilmente, uma saia na roda a dançar, uma cigana a volver, a te envolver, a te girar nos meus olhos, a me dançar nos teus braços, e eu, frágil menina, mulher só tua.
Volúvel, sim, talvez, em insistir em te querer entrelaçar. Tão volúvel quanto um caule que se espira, se prende, prende como uma serpente o objeto ao seu redor. Mas meu objeto é apenas o objetivo de te arranhar, te enlaçar e te fincar junto ao meu corpo, de ser volúvel pra te enfeitiçar em meus giros, pra te girar até meu precipício, pra te encantar e te mostrar que é inevitável não querer.
domingo, 29 de março de 2009
Cada pedaço
Pinga minha vida como escorre a água da chuva, ninguém sabe ao certo pra onde vai, ou o que se tornará, como o leite derramado e embebido pelo chão, vai meus pedaços a cada volta do relógio.
Faço e refaço minha sinfonia, instrumentos e instrumentistas se misturam. Cada um vai tocando em sua melodia, de forma irregular, o espetáculo desafinado de estar vivendo
Sinto tudo se esvaindo, pedaço por pedaço, vestígio por vestígio, só não me passa essa vertigem de querer saber além. Perceber que me jogar já não é suficiente me faz perder o pouco chão que tenho, se é que tenho chão. Na imensidão desse céu, de concreto, é só meu coração que pulsa, ainda pulsa a flutuar.
Gira o Sol acima da minha cabeça, correnteza que vai a me levar, pedaço por pedaço, vestígio por vestígio, tudo para vê se finjo que a moldura está completa. Para ver se existo cabal nalguma pintura, para ver se pinto minhas partes incompletas.
quinta-feira, 12 de março de 2009
Nossa imensidão
Eu fico olhando esse mar, a correnteza converge tudo em saudade e a areia molhada das tuas lágrimas absorve meus pés descalços. Minhas mãos sempre vazias portando apenas no meu dedo o peso de um anel. Confiro doze conchas no chão, é o dia certo para estar ali.
Tento mergulhar e cada vez mais fundo, encontrar lá no fundo do mar algum esconderijo em que a tua ausência não me alcance, romper uma onda e submergir sereia, olhar teus olhos infantis em qualquer gota de sal, de água, de chuva. Poder tocar o mar, mergulhar o céu. Nos teus braços me encostar e, enfim, renascer.
Hoje eu quero chuva, Sol já é tua pele contra a minha, queimando e ardendo, luz do querer, de ainda te querer, a cada dia e noite, como a lua nua em versos.
E se eu sou a lua, enquanto o calor do teu sangue me mantém, teus olhos são estrelas que me cercam, guiam, iluminam e se por vezes morrem, continuam a olhar por mim infinitamente e incansavelmente até que o amanhecer e a noite se encontrem no horizonte. Lá que teu corpo inflama a minha paz. Lá... onde o sol, a lua e o mar viram uma só imensidão.
domingo, 8 de março de 2009
Ausência
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada
Vinicius de Moraes
sábado, 7 de março de 2009
O reflexo
Essa sombra que me segue, persegue meus passos e juízo, na verdade já nem tenho certeza se ela me acompanha ou se eu que a procuro, mas em cada lugar a vejo, em cada gesto, e em cada reflexo fico sempre a me indagar sobre o que é real, ou quem.
Eu, matéria, corpo e transpiração só posso enlouquecer. Como duvidar de minha própria existência? Mas as pessoas da sala não me reconhecem. Eu sou o reflexo que tinge a prataria da casa, mas será que o reflexo sou eu?
Tento encontrá-la, me encontrar, encontrá-la em mim, me enxergar nos reflexos até que tudo vire uma coisa só. Poder tocar em seus dedos e adentrar esse espelho, ou simplesmente tirá-la de lá sem saber ao certo o que será de mim.
Vou escrevendo esses versos sem rimas nem palavras até que eu consiga tocar o espelho e consiga fazê-los enxergar o que ninguém consegue, até que o espelho reflita minhas rugas e calos ou a tinta da caneta seque.
Vou escrevendo meus versos até que eu consiga descobrir, enfim, se refletir é ser ou se eu posso ser sem refletir.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Menina borboleta
se seguir a borboleta é voar
então melhor bater as asas também
Arco Iris dos meus olhos
a tua pele me contém
seja pálida de medo
rubra de desejo
seja apenas o meu bem,
Bem me quer que tantas vezes
já tirei de tantas flores
cores, odores, amores
que te viram a cabeça,
pode vim bem de mansinho
com esse soluço na garganta
vem e conta tuas histórias
eu te canto a minha dança
Joga a tua saia, menina
eu quero te ver voar
sem caminho, sem receita
segue a letra,
borboleta sem lugar.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
pulso do meu coração
Agora pondero, não mais deliro
Às vezes deliro de tanto ponderar
Não tento me achar,
me esvario
Em qualquer rua, quaisquer águas
qualquer esquina...
Me entrego pra mim mesma
como escoa um rio
Sempre ritmo e cristalino,
desaguando para se juntar a poesia
Já não me pulso mais com
a frequência do meu peito
Mas não deixo de deixá-lo inflamar
Queimar-se em qualquer fogo
me incendiar
Vida que tenho, senhora,
é só essa
Mas vou deixando esse peito sossegar
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Bússola
Meus conceitos e loucuras
Jogue fora tudo que me faz lembrar..
Qualquer nota ou espelho
Uma foto ou qualquer meio
Qualquer jeito insuspeito
que me leve a pensar
Ando o tempo em melodia
Vida e mar é maresia
Mas nessa monotonia
a tempestade é o meu lugar
Joga a sorte pelo vento
Eu ando no teu movimento
Aponta a direção no dedo
que a bússola mostrar